"Estas palavras que escrevo me afastam da completa loucura!" C. Bukowski

sexta-feira, 22 de novembro de 2013

A culpa é de quem? Part III.

Uma garota de 17 anos enforcou-se com um fio elétrico. Uma garota com alguns anos a menos que eu. Isso já me chocaria por si só. Eu continuo indo à faculdade, vendo meus amigos, rindo e tomando cerveja no bar. Uma garota de 17 anos deu por encerrada sua própria vida, sem nem ter vivido ainda. Ela só exercia a liberdade do início da sua vida sexual e alguém se achou no direito de expô-la como um pedaço de carne numa vitrine de açougue. Uns acharam suculenta, outros acharam gorda demais. Julgamentos "suicidaram" uma garota, de novo. No Piauí, em Porto Alegre, a todo instante, do Oiapoque ao Chuí, literalmente. E a culpa, é de quem?
Se ela tivesse usado como arma um revólver, poderia dizer que cada um de nós puxou um pouco do gatilho. Eu puxei aquele fio, quando presenciei atitudes machistas e discriminatórias, quando sofri com o machismo e o preconceito, e não tive reação alguma. Pais e mães que criam seus filhos segundo o velho e triste padrão machista da sociedade puxaram um pouco mais do fio. A sociedade, tão perversa e estúpida, que costuma culpabilizar a vitima e ignorar o verdadeiro criminoso, deu o golpe final. 
Talvez (e muito provavelmente) os próprios pais dessas garotas as criavam para serem "mulheres dignas" que "se davam ao respeito". Talvez eles só quisessem que elas estudassem, crescessem, se casassem, tivessem filhos e vivessem uma vida normal. Eu os entendo! Entendo que ninguém quer perturbar a ordem, sair do eixo. Imagino o quão difícil deve ser para um pai falar para o filho que ele deve respeitar a mulher, acima do seu tal "instinto animal" e para uma mãe ensinar a filha que ela pode sim fazer o que quiser com seu corpo e sua vida, pois estes lhes pertencem. Eu entendo perfeitamente. A culpa não é deles, não. A culpa é de todos nós, que ajudamos, geração após geração, a manter um padrão estigmatizador de sociedade, que julga e exclui quem tenta subvertê-lo. Ninguém quer um filho subversivo. Ninguém quer sua joia mais preciosa sendo cuspida por aí. 
Aliás, me desculpem pela repetição de termos relacionados ao machismo. Se não quiserem chamar de machismo, não chamem. Chamem de preconceito, chamem de violência, chamem de assassinato. Como quiserem! Sim, é violência. O que as mulheres sofrem todos os dias nos transportes públicos, nos dias de calor ao andarem com roupas menores, nas redes sociais ao se exporem (é um direito delas, se quiserem) ou serem expostas involuntariamente, é tudo violência. E da mais cruel possível. Você se acha menos culpado, só por não ter "curtido", compartilhado ou comentado naquela foto ou vídeo? Não se iluda! Se em algum momento da sua vida você já fez ou riu de uma piada machista. Se em algum momento você já se submeteu passivamente a uma situação opressora. Se em algum momento você já "fez vista grossa" para qualquer uma dessas violências... Você também é culpado (a). Eu também. Você também puxou um pouquinho daquele fio. Nós puxamos. 



terça-feira, 15 de outubro de 2013

Antes do seu aniversário

Não sei o que é amor, não vejo disso por aí. Só vejo gente sendo gente, cruéis como tem que ser. E chorando por aí, ou rindo forçado, e fingindo se amar (já é alguma coisa, não?).

 Me contento se ele disser que me ama todos os dias, mesmo sabendo que não dura até o próximo aniversário (dele, nosso). Porque eu sou assim... Corto relações antes do aniversário, que é pra não correr perigo, e de amor eu nada sei.

Deixa...

quarta-feira, 13 de março de 2013

Juventude Premiada. 

Jovem paulistana é destaque na 63ª edição do Esso. 


Contrariando teorias supersticiosas, esta sexta feira treze não foi um dia de azar para a jovem jornalista Mariana Ramos. Seu nome está entre os ganhadores da 63ª edição do Prêmio Esso, premiação de maior importância na imprensa brasileira.
Com apenas vinte e cinco anos, a paulistana leva o prêmio de melhor reportagem, com o trabalho "As faces da senhora violência". Nesta série de reportagens, as mais diversas formas de violência são expostas com um olhar minucioso e peculiar. Extremamente elogiada pela crítica, Mariana passa a ser a mais jovem profissional a ganhar o prêmio.
Nascida na periferia da cidade e [recém] formada pela Faculdade Cásper Líbero, a jornalista diz ter ficado "surpresa com a notícia, devido aos seus poucos anos de idade e experiência profissional, se comparada com outros tantos colegas".
Porém o que lhe falta em idade e experiência sobra em determinação. "Durante a pesquisa para este trabalho, eu convivi com os mais diferentes tipos de violência e fui atrás de 'motivos', se é que eles existem, para tais ações. Desde um xingamento no trânsito, até um latrocínio cometido por um garoto de 14 anos. Não quis me limitar à visão que as pessoas geralmente têm de violência e foi aí que descobri suas verdadeiras raízes", diz Mariana.
Ledo engano supor que a jornalista pensa em descansar após a comemoração do prêmio: "Já estou trabalhando num novo projeto, desta vez série fotojornalística. Ainda sobre violência. Infelizmente, o combate é impossível sem a exposição.”
Enfática e persistente no tema, como se pode notar, a jovem mostra sua disposição em desmistificar e dar forma à violência. Resta ao público aguardar seu próximo e promissor trabalho.

terça-feira, 12 de março de 2013

Enfim, chegou.

Ela pediu a Deus para que essa hora não chegasse nunca, para que a razão sempre falasse mais alto. Pediu com tanta força, com tanto afinco, implorou todos os dias. Que não chegasse a hora de deixar a razão, que ninguém lhe parecesse perfeito nunca [porque, em verdade, nunca é]. "Deus é cruel e não ouve ninguém!"
Bastou apenas um olhar seguido de um sorriso. A combinação mais linda que ela sequer sonhava em ver. Numa noite que não prometia nada além de algumas risadas com os amigos e uma ressaca no dia seguinte, aconteceu. Depois de um dia nada fácil, de alguma briga, de ter posto seu orgulho para passear, ela vestiu as roupas curtas como quem veste uma armadura. E prometeu: não vai acontecer.
Era pra ser só mais uma noite e ele, até o momento, era pra ser mais um amigo ali, para fazê-la rir de alguma piada. Ele o fez com maestria, tamanha que não a deixava tirar os olhos dele. Quanto mais tentava disfarçar, mais seus olhos se fixavam nele. Já era tarde demais... Ele não a fazia rir de piadas, ele a fazia sorrir de existência. Já era tarde demais...
Não suficientemente tarde. Ainda podia sentir ele perto. O perfume. Aquele perfume, impossível de apagar da memória. O sorriso, o olhar, o perfume, o sorriso, o sorriso...
Simplesmente aconteceu.
E é assim: simples. O amor acontece. Amor é falar sem abrir a boa. É encontro alma. Alma que ela não se permite deixar perder jamais. Aconteceu.

sábado, 9 de março de 2013

As tais cruéis.

A vida traz reencontros, só para ter o prazer de ver doer a segunda separação. Corta lentamente, tortura, desfaz. Monta o circo e ateia fogo. É tão cruel, essa tal vida.
"Live and let die". Devia haver um manual, de como deixar morrer. Ou como deixar viver, sem querer. Que destas coisas, não entendo não. Não entendo de vida nem de morte. Não entendo de fim nem de começo. É estranho tudo ter um fim. Os esmaltes e os amores.
Terra de ninguém, essa tal vida. Plataforma de trem. Passa todo mundo, o tempo todo, e não fica ninguém. Ninguém. Nem pra contar a história, muitas vezes. Ficam as estórias, as contadas antes de dormir. E fica a memória. Das pessoas da plataforma. Também de uma crueldade inacreditável, essa tal de memória. Tortura com a vida e, no final de tudo, as duas riem sobre as cinzas do circo. É tudo tão efêmero. Nem quero mais ter memória...

sexta-feira, 22 de fevereiro de 2013

Chover flores.

Não sou avenida. Sou ruas tortas, becos e vielas. Sou São Paulo em dia de chuva, um caos ingrato, uma loucura. Depois sou sol, amanheço, seco e mostro os estragos. As dores das gentes das casas desmoronadas, são as dores dos corações pelos quais passo. Tento ainda ajudá-la a reconstruir, tijolo por tijolo, e depois de outro verão, volto a destruir. Sou assim. Inevitavelmente desastrosa. Tomo mais cuidado para não derrubar café em cima do livro, do que para não magoar os outros. Um dia desses disse e teimo em repetir: sou cruel com as pessoas que eu amo.
Talvez não mais cruel que a chuva ou o inverno com aqueles que não tem lar, mas cruel como os lares que desabam com as chuvas de verão já citadas. Eu construo sem perceber paredes não tão resistentes, mas suficientes para proteger do mundo. Depois de tudo, alguém sempre vai maldizer a chuva, São Pedro, ou o prefeito... Dificilmente culpam a casa em si ou quem a construiu. Talvez eu também seja São Pedro. Gosto da ideia de ser santa!
Eu corto como espinhos daquelas flores de canteiros de jardins perdidos pelo mar de concreto. Firo sem a intenção de ver sangrar. Firo com a intenção de ser bonita, beleza que só encontro na sinceridade. Firo, mas não deixo de ser flor.
Queria ter uma placa, no estilo daqueles de "não pise na grama". Minha placa diria "aprecie de longe, eu firo". E então ninguém me regaria ou me podaria. Morreria, assim, pela ação do tempo. Pela vontade divina ou pela lei natural. Na beleza da solidão, pela felicidade de ver alguém sorrir ao passar e me notar. E talvez ninguém note.. As pessoas passam correndo por aqui, apressadas para o trabalho ou para a morte. Elas sorriem forçadas ou gritam com as outras. Sorrisos falsos e gritos ferem mais que eu, acredito.Não quero ferir. Continuo com a placa!
Queria chover flores, sem espinhos. Flores não inundam avenidas, ruas tortas, becos e vielas, muito menos colocam a casa e os sonhos dos outros ao chão. Flores que perfumam e não ferem, sem espinhos. Para enfeitar vidas, explodir sorrisos. Trazer os lírios ofertados a Iemanjá para São Pedro e encher o mundo de axé. É isso... Eu quero ser chuva de flores. Cansei de ser enchente, furacão, transtorno, dor. Quero fazer surgir sonhos. Quero alargar a vida de alguém de amor!